ago 14 2020

Rancheiro

Cheguei ao fim do #RDR2. Foi um processo lento e doloroso. O jogo é ótimo, a história envolvente com roteiro melhor do que muito filme por aí. Mas o que me fez demorar um tanto mais para completar o game foram os prazeres simples da vida rancheira que o jogo expõe. Em meio a experiência, dois meses e meio atrás, perdi o meu exemplo de rancheiro. Meu avô era um homem de honra e trabalho duro, um tanto diferente do protagonista do game. Mas em sua história pela redenção, o personagem amadurece e se aproxima da visão idílica que tenho do meu avô. Os pequenos detalhes visuais me lembram as histórias do velho. A faca que o personagem carrega é muito semelhante a que meu avô ainda tinha em sua casa de madeira. A mesma faca que me mostrou como arremessar. Espingarda, só de chumbinho. Os mesmos pratos e canecas de metal. As camisas de padrões xadrez. Já não usava chapéu há muitos anos. Desde que me lembro, trabalhava como metalúrgico / maquinista em uma fábrica. Já não era rancheiro quando eu nasci. Mas seus olhos tinham aquele brilho quando contava histórias das suas viagens ao Mato Grosso conduzindo o gado. Ás vezes, no jogo, conduzo o personagem até os limites do cenário, longe da civilização, só para admirar o trabalho dos artistas que criaram aquelas paisagens incríveis, os pôres de sol e as tempestades temíveis nos campos. Os pássaros cantando e lançando-se ao céu. No fundo da minha mente fico a pensar na vida do meu avô. Tão repleta, tão sofrida. Agradeço aos game designers por essa experiência incrível, que eles nem sabem iriam proporcionar. E olho para o céu e agradeço pelo meu rancheiro, homem de honra, família e trabalho duro. Orgulho.


I got the end of #RDR2. It was a slow and painful process. Don’t get me wrong; the game is excellent, the story is better scripted than many movies out there. But what took me a while to complete it were the simple pleasures of the ranch life that the game unfolds. Amid the experience, two and a half months ago, I lost my example of a rancher. My grandfather was an honored and hard-working man, somewhat different from the game’s protagonist. But in his story for redemption, the character matures and approaches the idyllic image I have of my grandfather. The game’s little visual details remind me of the old man’s stories. The knife the character carries is very similar to the one my grandfather had in his wooden house. The same blade that grandpa showed me how to throw. The shotgun he had was barely a pellet one. They shared similar tin plates and mugs. And dressed the same plaid pattern shirts. Grandpa hadn’t worn a hat in years. Since I can remember, he worked as a metallurgist/machinist in a factory. He was no longer a rancher when I was born. But his eyes had that sparkle when he told stories of his trips to Mato Grosso leading cattle. Sometimes, in the game, I take the character to the limits of the map, far from civilization, to admire the work of game artists who created those incredible landscapes, the sunsets, and the rough storms falling in the fields. The birds The birds chirping and soaring up high. and soaring up high. Somewhere deep in my mind, I keep thinking about my grandfather’s life. So full and so hard. I thank the game designers for this incredible experience, which they do not even know would provide. And I look up to the heavens and thank God for lending me a rancher, a man of honor, a family man, and such hard work human being. I’m glad.


nov 24 2016

Eu tive que deixá-la ir

Eu ainda a via no canto do meu olhar.
Me acompanhava silenciosa, cautelosamente,
me seguindo onde quer que eu fosse.
Me assombrando talvez?

Era feita de sentimentos não resolvidos,
de beijos nunca dados, traição nunca consumada,
repleta de piedade e desejos de bem-estar.
Era como estar de volta.

Quando chegava em casa ela me alcançava na porta.
E enquanto procurava as chaves no bolso,
reinava sobre nós aquele silêncio embaraçoso.
Eu tive que deixá-la ir.

A lâmina tremeu um pouco ao passar pelas costelas,
arranhou a parede ao fundo, manchando-a de carmesim
enquanto ela escorria aos meus pés.
Ainda tão silenciosa.

Arrastei-a para fora e enterrei no pátio em frente,
debaixo de uma árvore que os corvos reclamaram para si.
Revezam-se ao vigiá-la… para que não volte.
Para que encontre seu caminho para casa.


nov 8 2016

Tchau guria!

Vão ficar as saudades eternas do “oi guri”, entre tantas outras coisas. Vá em paz, Elis!


ago 5 2016

A Night Like This

Say goodbye on a night like this
If it’s the last thing we ever do…

Say hello on a day like today
Say it everytime you move…

– A Night Like This, the Cure


ago 4 2016

Cinnamon cookies

– best fika gift ever

A taste of morning, a taste of when,
something from home, other from then
[ or maybe, others from them?


maio 24 2016

Sobre um brinde solitário

Sometimes we lose what we are caring for
and then face the day without them

Sometimes we fail to say how hurt we are
When the word we fear speaks treason

– Tonight I Dance Alone, Sonata Arctica


maio 9 2016

E há tantos recortes dessa música…

Is something I cannot say
Is something I can’t explain […]

As palavras vão para o papel, ao invés de se dirigem a você. Preenchem as mesmas páginas amareladas que eu mantenho reservadas, observadas somente pelo tempo que escorre. Elas carregam as complexidades que eu não consigo expor, tão difíceis de representar pelo seu contínuo pulsar e espasmar.

Why I should (not) fall apart? […]

Partes de mim que eu preciso deitar ao chão. Ossos falsos, órgãos falidos que carregam um peso, mas pouco contribuem para a sobrevivência do organismo. A intervenção dói um pouco, mas me torna mais plano, e um pouco mais arguto.

Why I should (not) be at peace?

Pouco a pouco as partes no solo constituem um novo eu, orgânico mas não-vivo. E eu me percebo observando a mim mesmo, de fora da minha vida, de fora dos meus olhos. Silenciosamente a me assombrar…

  • baseado em Untouchable, Part 2 -Anathema

abr 29 2016

Sinceridade Mascarada

Foxglove trouxe da feira uma rama de hortelã,
também um pé de salsa, coentro, orégano
e uma dose generosa de sinceridade.

Plantou-os e regou-os com cuidado,
e conversou com eles de modo natural,
palavras que não eram proferidas há meses.

A hortelã temperamental murcha e retorna a avivar,
o coentro ás vezes parece querer desistir,
mas é a sinceridade mais difícil de cultivar.

Ela se apega, torna-se íntima e se faz necessária,
e no início da primavera troca suas folhas,
desabrochando as pétalas alvas de pena.


abr 19 2016

Desilusão

The feeling is more than I’ve ever known
I can’t believe it was just an illusion
– The Lost Song Part 2, Anathema

As paredes escorriam lentamente, liquefeitas em um tecido miócito que já não suportava a si mesmo. Através das armações expostas das doze colunas ivórias conseguia vislumbrar o céu. Três pares de colunas eram falsas e apresentavam nenhuma sustentação, outros dois flutuavam em conjunto com as paredes. Toda a fortaleza parecia vir ao chão a qualquer momento.

Lá fora a escuridão chovia, em uma precipitação negra e fria que roubara do céu a tonalidade, tornando-o pálido e opaco. As janelas fragmentadas permitiam o escorrer da sombra em estruturas filiformes por sua face. Contrastavam com a alvidez falsa da maquiagem e com o sentimento pacífico que sentia. Agonia ali não existia, ao contrário, apática satisfação.

Deitou ao relento, coberta e confortada pela noite sem cores e sem estrelas, e adormeceu. E em seu sono foi assaltada por um pesadelo que questionava sua identidade, suas certezas, seu chão. Perdida numa realidade que não a sua, repleta de caos pulsante e vibrante, temeu não poder mais retornar para casa.


abr 12 2016

Recortes do Exílio

My land has palm trees
Where the thrush sings.
The birds that sing here
Do not sing as they do there.

You want everything
Another world where the sun always shines
And the birds always sing
Always sing…

O primeiro verso vem da versão inglesa para a “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias; o segundo de Where the Birds Always Sing do The Cure. Quis experimentar um mash-up.